O que leva um professor a embarcar numa jornada de 18 meses na Amazônia?
O Brasil está na reta final dos preparativos para receber a oitava edição do Fórum Mundial da Água, que acontece em Brasília entre os dias 18 e 23 de março. Cerca de 7.500 participantes, oriundos de 150 países, já estão confirmados. O Green Film Festival é um dos destaques na programação do evento, e neste ano a mostra competitiva de longas-metragens recebe o documentário “Beyond Fordlândia” (EUA-BRA, 2017, 75 min), do diretor estreante Marcos Colón, que volta a ser exibido no país depois de circular com sucesso por festivais no exterior. A sessão do filme acontece no dia 21, a partir das 20h30, no Cine Brasília.
A narrativa de “Beyond Fordlândia” transita entre a malfadada experiência do empresário norte-americano Henry Ford com as seringueiras no interior do Pará, no fim dos anos 1920, e a pujança do mercado contemporâneo liderado pela soja, investigando possíveis respostas para as agressões contra a floresta e seus agentes a longo prazo.
O professor e pesquisador da Universidade de Wisconsin-Madison, Colón, que não é cineasta e não conhecia a área do cinema, pesquisa a representação literária da Amazônia nas obras literárias do século XX. Sua tese de doutorado tem como foco o trabalho de Mário de Andrade observado pelo viés ecológico. Em uma nota de O Turista Aprendiz, o modernista fez breves comentários sobre a chegada do empreendimento de Henry Ford às margens do rio Tapajós, no Pará, por volta de 1928.
“Ao notar a passagem no Turista e pesquisar sobre Fordlândia, fui levado àquele lugar para saber o que tinha acontecido com a região após a ‘aventura amazônica’ de Henry Ford. O que encontrei foram memórias e o vazio de um projeto falido”, conta o diretor.
Da ciência para o cinema
Com o ímpeto que já lhe rendeu cinco prêmios e exibições nas instituições de pesquisa ambiental mais relevantes do mundo, Colón embarcou numa jornada de 18 meses para ver de perto o legado fordista na Amazônia. E descobriu que o passo de Ford, embora em falso, fora o motor para ideias semelhantes aplicadas ao mercado do agronegócio contemporâneo. A região de Belterra, no Pará, passa pelo mesmo processo: exploração dos recursos naturais, monocultura e pressão sobre as comunidades tradicionais, a floresta e as culturas já existentes.
Para além de sua pesquisa, Colón buscou as vozes de pesquisadores, artistas, escritores, quilombolas, agricultores familiares – as vozes da própria Amazônia – para construir a narrativa do filme. Para o professor da UFAM, Marcus Barros, o ponto de partida para os projetos é sempre a crença no objetivo.
“Ford julgou ser possível derrubar a mata, queimar e plantar seringueira. Ele disse ‘é possível derrubar e fazer outra coisa’. Mas o futuro mostrou, e Fordlândia está aí... no zero”, avalia o cientista.
Se Henry Ford fez possível a destruição de um milhão de hectares e iniciou o lento processo de agressão à floresta, o filme mostra que é possível acreditar em outros futuros para a Amazônia, e o reconhecimento pelo mundo reforça essa característica.
SOBRE O DIRETOR
Marcos Colón é americano de mãe brasileira, pesquisador do Instituto Nelson de Estudos Ambientais da Universidade de Wisconsin-Madison e professor do Departamento de Espanhol e Português da instituição. Pesquisa a representação da Amazônia nas obras literárias do século XX.
Serviço
o quê: Exibição de “Beyond Fordlândia” (Muito Além de Fordlândia) na mostra competitiva do Green Film Festival
quando: Dia 21 de março, às 20h30
onde: Cine Brasília (EQS 106/107 - Asa Sul – Brasília)
contato: press.beyondfordlandia@gmail.com